A leitura de Jogos Vorazes (aqui estamos falando, principalmente, do primeiro volume da série) pode nos lembrar de várias outras obras literárias ou mesmo cinematográficas. Uma delas é o livro do autor britânico William Golding, O Senhor das Moscas, que é um dos livros favoritos de Suzanne Collins.
O livro de Golding apresenta a história de um grupo de garotos britânicos que está sendo deslocado para uma localidade segura em meio à Segunda Guerra Mundial. No meio do caminho, no entanto, o avião em que estavam sofre um acidente e eles acabam parando em uma ilha deserta, sem nenhum adulto para supervisioná-los. Ali eles têm que descobrir quais são suas habilidades para sobreviver até conseguirem ser resgatados. Ralph, Porquinho, Simon e Jack são os protagonistas que conduzem a narrativa. A nova situação acaba por transformar todos os meninos, cada um a sua maneira, passando a idéia de que pessoas consideradas tão civilizadas podem, facilmente, se tornar selvagens.
A história lembrou alguma coisa? Pois bem, Jogos Vorazes e O Senhor das Moscas falam sobre sobrevivência em situações extremas, em um terreno desconhecido, em que crianças e jovens devem encontrar, sozinhos, um caminho para sair do local onde estão. Somado a isso, ainda existe a necessidade, para alguns pelo menos, de se manter a sua humanidade, sem se transformar em animais. Além disso, nenhuma das crianças pediu, digamos assim, para estar ali, mas foram obrigadas a estarem ali (a exceção é Katniss que, em um ato heróico, escolhe se tornar tributo para defender a irmã).
Outro ponto de contato seria o pano de fundo de guerra. Em O Senhor das Moscas, a Segunda Guerra Mundial acontecia ao mesmo tempo em que os garotos estavam na ilha. O conflito estava modificando a sociedade do momento, assim como a situação de isolamento mudava os garotos. Em Jogos Vorazes, a própria guerra foi o motivo da existência dos próprios jogos, sem contar o fato de que aquele 74º jogo iria acabar levando a uma nova agitação.
Por fim, as similaridades dos livros ficam por conta da idéia da perda da ingenuidade, inocência, de todas as crianças envolvidas, sejam dos garotos sobreviventes, sejam dos competidores e sobreviventes da arena.
Também é importante apontar algumas das diferenças entre as duas obras. Uma das principais é a diferença na maneira de se buscar a sobrevivência. Em O Senhor das Moscas são apresentadas as dúvidas de como lidar com a convivência em grupo e a individualidade para sobreviver. Os meninos estão pensando juntos para descobrir uma maneira de sobreviverem e saírem da ilha, chegando a eleger um líder, o Ralph. No entanto, nem sempre eles conseguem manter estabilidade e pensar da mesma maneira. O texto, de certa maneira, é uma espécie de questionamento sobre a sociedade, especialmente no período de guerra.
Já em Jogos Vorazes a idéia do “cada um por si” é mais presente e evidente. Os 24 meninos e meninas que participam dos jogos – ainda que alguns formem uma aliança, por algum tempo, como foi o caso da Katniss e a Rue – estão sozinhos e não podem depender de ninguém se quiserem se tornar o campeão ou a campeã sobrevivente.
Um ponto curioso que diferencia as duas obras é o fato de Golding ter escolhido escrever sua história apenas com meninos, enquanto Collins misture os sexos. Para alguns, a opção do escritor britânico de escolher apenas garotos pode estar relacionada ao fato de ele não querer abrir ainda mais possibilidades na narrativa, como, por exemplo, descobertas sexuais. No caso de Jogos Vorazes, o foco não é exatamente essas descobertas, mas, de alguma forma, pode-se falar que elas acabam aparecendo e influenciando a narrativa, como se pode observar no relacionamento entre o Peeta e a Katniss.
A leitura tanto de O Senhor das Moscas, como de Jogos Vorazes, pode se tornar ainda mais interessante depois da leitura das duas obras. O que vocês acham?
Comentários
Uma resposta para “Os Jogos Vorazes e O Senhor das Moscas”
Mais um livro pra minha lista de futuras leituras…