Jogos Vorazes, que chega aos cinemas na próxima sexta-feira, tem sido bem recepcionado pela crítica e, acreditamos, pela audiência, como saberemos em breve quando saírem os números de bilheteria do filme. O filme, antes com 100% de aprovação quando havia poucas críticas, agora permanece com 91% com um total de 64 críticas, sendo apenas 6 dessas críticas negativas.
Seguindo com as nossas postagens de críticas quase que diárias, a de hoje é do respeitado Roger Ebert. Sua nota para o filme foi 3/5. Confira a crítica traduzida pela nossa equipe abaixo:
Como muitas histórias de ficção científica, “Jogos Vorazes” mostra um futuro que estamos convidados a ler como uma parábola para o presente. Depois das cidades existentes da América do Norte serem destruídas por catástrofes, uma civilização chamada Panem surge das ruínas. Ela é governada por uma vasta e rica Capital inspirada por incontáveis capas de revistas de ficção científica e cercada por 12 “distritos” que são satélites sem poder.
Quando a história começa, é o início do ritual anual dos Jogos Vorazes; cada distrito deve fornecer em “tributo” uma jovem moça e um jovem rapaz, e esses 24 finalistas devem lutar até a morte em uma “arena” de floresta onde câmeras escondidas capturam cada movimento.
Isso resulta em uma produção televisiva que aparentemente mantém a nação fascinada e os cidadãos contentes. Sra. Link, minha professora de Latim no ensino médio, ficará orgulhosa de eu lembrar uma de suas frases diárias, “panem et circenses”, que resumia a fórmula romana para criar uma população dócil: Dê a eles pão e circo. Uma visão da América dos dias de hoje é chamada, seus cidadãos gulosos com fast food e distraídos por reality shows. Como se espera que a população aceite o sacrifício violento de 24 jovens vidas por ano? Quantos morreram em nossas guerras recentes?
A história é centrada em dois tributos do pobre e sujo Distrito 12: Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) e Peeta Mellark (Josh Hutcherson). A garota de 16 anos caça um cervo com arco e flecha para alimentar sua família; ele pode ser mais robusto, mas parece não ser páreo em habilidades de sobrevivência. Ambos são distintos, tipos de Panem, e apesar de um ou os dois eventualmente terem que morrer, romance é uma possibilidade.
Em contraste com esses jovens saudáveis, a classe que manda na Capital é de decadentes acabados. Effie Trinket (Elizabeth Banks), enfeitada com roupas espalhafatosas e carregada de cosméticos extravagantes, é a mestra de cerimônias do sorteio anual de tributos, e a nação conhece os finalistas em um talk show comandado por Caesar Flickerman (Stanley Tucci), que sugere o que Donald Trump faria com seu cabelo se ele se cansasse dele.
O executivo no comando é o Idealizados, Seneca (Wes Bentley), que tem uma barba desenhada tão bizarramente que Satã teria inveja. No topo da sociedade está o presidente (Donald Sutherland), um grisalho sagaz que fomenta pensamentos profundos. Em entrevistas, Sutherland comparou a geração mais nova com esquerdistas e Ocupadores. Os mais velhos na Capital são sem dúvida uma oligarquia de ala direita. Meus amigos conservadores, entretanto, comparam os mais jovens com a Tea Party e os mais velhos com Elitistas decadentes. “Jogos Vorazes”, com muitas parábolas, mostrará a você exatamente o que você busca.
As cenas passadas na Capital e que lidam com seus personagens peculiares tem um tom completamente diferente das cenas de conflito na Arena. A classe que comanda é pintada de pura sátira e cores vibrantes. Katniss e os outros tributos são vistos com um realismo em tons de terra; essa personagem poderia ser outra manifestação, de fato, da personagem indicada ao Oscar de Jennifer Lawrence, Ree em “Inverno da Alma”. O roteiro até explica por quê ela é adepta do arco e flecha.
Algo que eu senti falta, no entanto, foi mais auto-consciência por parte dos tributos. Enquanto seus nomes são sorteados em uma aquário (!) na Colheita, as reações dos escolhidos parecem um tanto reprimidas, considerando as chances de 23-para-1 que eles acabem mortos. Katniss se voluntaria para tomar o lugar de sua irmã de 12 anos, Prim (Willow Shields), mas ninguém discute explicitamente se é justo um combate mortal entre garotinhas e homens de 18 anos. Aparentemente os públicos saturados da TV de Panem desenvolveram um apetite pela barbaridade. Nem Katniss e Peeta revelam muitos pensamentos sobre sua própria posição peculiar.
“Jogos Vorazes” é um entretenimento efetivo, e Jennifer Lawrence é forte e convincente no papel principal. Mas o filme salta questões óbvias em seu caminho, e evita as oportunidades que a ficção científica dá às criticas sociais; comparar seu mundo com as distopias de “Gattaca” ou “O Show de Truman”. O diretor Gary Ross e seus escritores (incluindo a autora da séie, Suzanne Collins) obviamente acham que seu público quer ver muitas cenas de caça e sobrevivência, e não tem interesse em pessoas falando sobre como um sistema de classes cruel as está usando. Bem, talvez eles estejam certos. Mas eu achei o filme muito longo e lento enquanto negociava os limites de suas questões morais.