[Reportagens] “Em Chamas” na edição de novembro da Empire

O D13 traz para vocês uma nova reportagem traduzida. Agora, é vez da revista britânica Empire, que chega todo mês às bancas. A edição de novembro traz os filmes de inverno (no hemisfério norte) da temporada. O grande destaque, claro, é Jogos Vorazes: Em Chamas.

A revista traz uma extensa conversa com a estrela Jennifer Lawrence e com o diretor Francis Lawrence, que mostrou 30 minutos do filme ao autor da reportagem.

Entre os destaques da conversa com Jennifer, há de inédito a parte em que ela fala sobre conhecer nos sets de X-Men: Dias De Um Futuro Esquecido Peter Dinklage (mais conhecido por interpretar na série de TV Game of Thrones o anão Tyrion Lannister) e seu planejamento de carreira, que inclui diminuir a quantidade de filmes por ano e produzir longas-metragens.

Quanto a Francis Lawrence, colocamos um excerto da reportagem abaixo:

Dos cerca de 30 minutos que ele mostra à Empire, a visão que Francis Lawrence tem de Jogos Vorazes tem uma beleza mais fria e triste do que a de Ross, que tinha toques de verde. Também parece maior, com cenários desolados que chegam ao vazio, sua Panem mais solitária, um lugar mais desamparado. “Eu achei que havia uma oportunidade real de abrir o mundo,” diz Francis Lawrence. “Eu não tive muitas sensações sobre o local no primeiro filme. Achei que podíamos crescer visualmente, porque veríamos mais dos Distritos, da Capital, e uma arena totalmente nova.”

Enfim, confira abaixo toda a reportagem traduzida pela equipe do D13:

“Em Chamas” na edição de novembro da Empire

Em 27 de fevereiro de 2012, a Empire se sentou com Jennifer Lawrence no Hotel Soho em Londres. Em algumas semanas ela estaria na premiere de Jogos Vorazes, seu primeiro filme de grande orçamento como protagonista. Ela não é virgem em sucessos de bilheteria, mas o bem-sucedido X-Men: Primeira Classe não era realmente seu filme. Ela era uma mutante coadjuvante, e além disso, no pôster mal dava pra ver que era Lawrence por trás de toda aquela maquiagem azul cheia de bolhas. Jogos Vorazes é todo por conta dela. Sendo um sucesso, ela é o rosto de uma franquia enorme, e uma mulher muito rica. Sendo um fracasso, ela é outra talentosa atriz indie que não é bem uma estrela.

“As pessoas me perguntam se estou pronta para que minha vida mude,” diz Lawrence, com o rosto inseguro de que expressão fazer. “Não sei se é algo para o qual dá pra se preparar. Mas posso não precisar disso. Talvez nada mude. Talvez ninguém veja esse filme e eu nunca mais trabalhe.”

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“Não, juro, foi insanamente empolgante pra mim!”

18 meses depois, em um hotel no litoral de Santa Monica, Califórnia, e pedimos a Lawrence que contasse qual foi o momento mais louco de seu ano e meio desde que nos encontramos em Londres. Sua resposta é, francamente, inacreditável. É absurda.

Ela ganhou um Oscar, em sua segunda indicação, antes de seu 23o aniversário. Jogos Vorazes teve, na época, o terceiro maior fim de semana de estreia da história. Mas ela não escolhe nada disso.

“Ok, então você vê um monte das mesmas pessoas em todos os eventos diferentes na temporada de premiações, e uma vez Sally Field disse pra mim, ‘Todos vamos para os mesmos lugares – eu realmente acho que poderíamos fazer carona solidária.’”

Bem, isso é uma graça, mas não é…

“Cara, Sally Field queria juntar todos esses atores em uma van e sair dirigindo por aí! Olha, eu vivo uma vida muito tediosa. Era uma carona muito empolgante!”

Para Lawrence, tudo mudou e ela está tendo dificuldades em se manter no ritmo.

A Empire a encontrou muitas vezes durante os últimos 18 meses e todas as vezes sua fama tinha aumentado um pouco, chegando a uma velocidade que parece deixá-la permanentemente sem ar. Desde o momento em que ela ganhou o Oscar de Melhor Atriz por O Lado Bom da Vida, tropeçou em seu vestido subindo as escadas e riu de si mesma por ser desastrada, o mundo se apaixonou por Jennifer Lawrence. Agora, dois meses antes do lançamento do segundo filme de Jogos Vorazes, Em Chamas, é difícil ver como ela poderia ficar ainda mais famosa sem mudar seu nome para Tom Cruise ou McDonald’s.

A expectativa para o segundo filme de Jogos Vorazes é imensa. Em Chamas é o ponto em que a série ganha um sentido. Se o primeiro livro era um triângulo amoroso com um pano de fundo de um mundo futuro imaginário, o segundo foi o momento em que o fundo foi trazido para a frente. Katniss Everdeen agora é vitoriosa dos Jogos Vorazes, onde dois jovens de cada Distrito da nação distópica de Panem são forçados a lutar até a morte. Ela acredita que suas preocupações estão acabando. Entretanto, um golpe no fim no torneio, quando ela se recusou a matar seu último oponente, Peeta (Josh Hutcherson), e desafiou a autoridade dos governantes de seu mundo, enfureceu o maléfico Presidente Snow (Donald Sutherland), que agora está determinado a destruí-la. Seu ato de rebeldia deu início a algo. Os oprimidos estão prestes a se erguerem. Mesmo que ela não tivesse a intenção, Katniss está prestes a se tornar a mulher mais notória de seu mundo.

Lawrence pode, em geral, ver os paralelos com sua própria situação.

“É difícil dizer que você se identifica com alguém que está encarando a vida e a morte e a guerra. Não é tipo, ‘AimeuDeus, isso é, tipo, totalmente como eu me sinto,’” ela diz. “Mas há a conexão por ela não sentir mais que é parte da cidade. Agora todos a tratam como uma celebridade… Enquanto ela ainda sente que é parte deles. Eu entendo bem isso. Vou tomar café onde sempre tomo e do nada há um clima estranho, e eu penso, ‘Fala sério, eu ainda tomo café aqui, digam oi logo.’”

Enquanto Jogos Vorazes faz a transição em sua história, também houve uma transição de direção. Com um calendário extremamente apertado para preparar o segundo filme para lançamento no fim de 2013, o diretor original Gary Ross foi embora, deixando uma das cadeiras de diretor mais cobiçadas de Hollywood vazia. Depois de uma corrida enlouquecida que envolveu Bennett Miller (O Homem que Mudou o Jogo) e Juan Antonio Bayona (O Impossível), o vencedor foi Francis Lawrence (a quem, devido ao inconveniente de compartilhar o sobrenome de sua estrela, vamos nos referir pelo nome completo), diretor de Eu Sou A Lenda e Água Para Elefantes. E, além de comandar Em Chamas, ele agora irá fechar a série com A Esperança Partes 1 e 2.

“Acho que uma das coisas que talvez tenha deixado o estúdio mais confortável foi que eu já tinha trabalhado com prazos muito menores do que esse,” ele diz quando nos encontramos na sala de edição de Em Chamas, onde, com três meses restantes, seu filme parece incrivelmente completo. “Em Eu Sou A Lenda, tínhamos o rascunho de uma história e aí nos disseram que precisávamos estar prontos para filmar em 12 semanas. Sair de apenas um rascunho para as filmagens em 12 semanas em Nova York, com tudo o que envolvia, foi muito mais apertado que isso… Eu não diria que foi fácil fazer isso, mas com certeza foi mais fácil do que Eu Sou A Lenda.”

Dos cerca de 30 minutos que ele mostra à Empire, a visão que Francis Lawrence tem de Jogos Vorazes tem uma beleza mais fria e triste do que a de Ross, que tinha toques de verde. Também parece maior, com cenários desolados que chegam ao vazio, sua Panem mais solitária, um lugar mais desamparado. “Eu achei que havia uma oportunidade real de abrir o mundo,” diz Francis Lawrence. “Eu não tive muitas sensações sobre o local no primeiro filme. Achei que podíamos crescer visualmente, porque veríamos mais dos Distritos, da Capital, e uma arena totalmente nova.”

Não é possível haver um filme de Jogos Vorazes sem um jogo. Katniss volta para a batalha, dessa vez com o Havaí como arena tropical, para um torneio dos ‘melhores dos melhores’ onde vencedores anteriores se encaram para se provarem como o maior vencedor, e para que Snow mostre ao mundo que ninguém está a salvo.

Isso deu a oportunidade de inchar enormemente o elenco. Sam Claflin entra como Finnick, um ex-campeão absurdamente bonito; Jena Malone interpreta Johanna Mason, outra competidora que é terrivelmente confiante e cuidadosamente má; Jeffrey Wright, Amanda Plummer e Lynn Cohen também interpretam competidores, enquanto Philip Seymour Hoffman é o Idealizador-Chefe Plutarch Heavensbee. Todas essas mudanças deixaram Jennifer Lawrence na posição de elemento mais constante da série. “Sim, me consultaram sobre quem eu queria que fosse o novo diretor,” ela diz. “Mas não sou delirante. Tenho certeza de que se eu dissesse que odiava Francis completamente, eles o teriam contratado ainda assim… Felizmente, acho que Francis é a decisão mais esperta que qualquer estúdio já tomou.”

Uma parte significante do trabalho de um diretor era só conseguir que seus intérpretes se concentrassem no trabalho do momento. “Esse elenco todo trabalhou muito,” ele diz, “mas se você tivesse uma cena com Jennifer, Josh e Woody Harrelson (que interpreta o mentor de Katniss, Haymitch) aí era praticamente um desastre. Eles não ficavam com a cara séria.” Aí, é claro, havia o problema de sua protagonista ter começado o filme como indicada ao Oscar, ter tirado várias semanas de folga para ganhar todos os prêmios possíveis, e depois voltado para filmar como vencedora do Oscar.

“Bem, é claro que eu mudei,” brinca Lawrence. “Eu disse a eles, ‘As coisas vão ser um pouco diferentes por aqui de agora em diante…’”

Toda essa coisa de atuar como uma pessoa famosa ainda é um desafio para Jennifer Lawrence. Quando nos encontramos no Festival de Cannes, pouco depois de sua vitória no Oscar, Lawrence ainda estava um pouco desconcertada por um momento em que seu lado natural surgiu por detrás do verniz refinado que se espera de alguém nos prêmios da Academia. Em um momento de muita empolgação, ela, por brincadeira, deu o dedo na sala de imprensa do Oscar, então a foto obviamente viajou por todo o mundo.

“É muito engraçado o tanto que eu surtei quando percebi que aquilo aconteceu,” ela ri. “Eu corri para minha publicista, dizendo, ‘Ai, meu Deus, ai, meu Deus, ai, meu Deus…’ e agora penso, ‘Esse provavelmente é o momento de que mais me orgulho de toda minha carreira.’ Toda vez que as pessoas falam sobre não ter filtro – isso só me mostrou o quanto meus membros e boca estão mais em controle do que eu mesma. É chocante.”

É parte do charme dela que quando em eventos de alta concentração de celebridades, Lawrence age como qualquer um de nós imagina que agiria. Ela ainda não consegue aceitar o fato de que outros atores a vêem como uma deles, não como uma criança que invadiu. Há um vídeo dela na Comic-Con de 2013 vendo Jeff Bridges e, depois de correr na direção oposta por estar com muito medo de falar com ele, ela gagueja para ele o quanto é sua fã e sai de perto com um, “Isso é tão legal!”

Quando questionada sobre seu retorno a X-Men, reprisando seu papel como Mística em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, a primeira coisa que ela diz é, “Eu simplesmente pirei com Peter Dinklage (que interpreta o vilão Bolivar Trask). Perdi a cabeça. Eu pensei… ‘É o Tyrion Lannister! Ele é o Elfo Nervoso!’ Na verdade, todo mundo no set estava pirando. Hugh Jackman estava tomando banho de sol, eu sou a Mística azul, e aí aparece Peter Dinklage num celular e todo mundo no set diz, ‘Meu Deus, Tyrion Lannister está falando no celular!’” Ela é como metade de uma comédia de troca de corpos em que uma nerd desajeitada troca de personalidade com a chefe das líderes de torcida.

Lawrence parece viver sua vida como se ninguém observasse. Mas agora todos observam. Os fãs são geralmente gentis. “As pessoas são muito legais. Às vezes alguém grita, ‘Você é uma vadia imunda!’ Mas acho que isso aconteceria de qualquer maneira,”  ela sorri. : Acho que provavelmente deveria me vestir melhor.”  Ainda assim, não é surpreendente que ela tenha se tornado um ímã de paparazzi. Quando nos encontramos em agosto em Santa Monica, ela é uma presença quase constante em sites do tipo que consegue transformar uma celebridade atravessando a rua em uma história de 1000 palavras. “Não é como se você não soubesse que haveriam paparazzi,” ela diz no momento. “Você acho que será irritante, mas não que será assustador ou ameaçador ou deprimente. Pode ser muito difícil encontrar o lado bom dessa situação.”

Entretanto, a velocidade de sua vida atual é  tanta que um mês depois é uma história completamente diferente. “Oh, isso ficou muito mais fácil,” ela diz pelo telefone em setembro. “Agora mesmo não tenho ninguém [me seguindo]. Foi muito intenso por um tempo e eu pensei, ‘Oh, Deus, não aguento isso.’ Mas vem e vai, então na verdade não é tão horrível quanto achei que seria. Acho que eles se cansaram de me seguir até o mercado.”

Na última vez que falamos com Jennifer Lawrence antes do lançamento de Em Chamas, alternamos sobre o que acontecerá  a seguir. O que se faz quando você ganha um Oscar e efetivamente assegura seu legado cinematográfico, tanto pelo lado comercial quando pelo critico, quando se está a provavelmente em menos de um quarto do tempo de sua vida?

“Todos não tem planos?” diz Lawrence com uma surpresa genuína. Não, na verdade; quando se pergunta à maioria dos atores se há algum plano para a carreira deles, eles dirão que escolhem cada papel à medida que eles surgem, confiando seu futuro à integridade de suas escolhas artísticas ou coisa assim. “Eu planejo. Isso é estranho? É como fui criada. A forma como meus pais trabalham e como todos ao meu redor trabalham é que você tem um plano de carreira.”

A primeira parte desse plano claramente funcionou muito bem. Criada em Louisville, Kentucky, com uma mãe dona de um acampamento de verão e um pai do ramo de construção, Lawrence era uma criança ansiosa que passou por muita terapia antes de descobrir aos 14 anos que atuar fazia um trabalho muito melhor em melhorar sua confiança. De conseguir um papel de coadjuvante em uma série de comédia, The Bill Engvall Show, até seu papel de destaque em Inverno da Alma de Debra Granik, aos 20 anos, ela tem “sorte de nunca ter tido um momento onde pensei que as coisas iam muito mal.” Então qual é a fase dois do Plano Mestre de Lawrence?

“Isso sempre é difícil porque se não acontecer, você vai pensar, ‘Oh, uau, que perdedora.’ Porque esses filmes são tão grandes e… Não quero que as pessoas se irritem comigo, quero desacelerar e fazer um ou dois filmes por ano. Três, no máximo. Eu gostaria de começar a produzir. E eventualmente voltar para um filme grande a cada dois anos. Se isso parecer um plano muito enrolado, é porque é mesmo.” Ela não tem vontade de escrever ou dirigir. “Não quero achar que posso fazer coisas que não posso. Acho que atuar te faz pensar que você pode fazer qualquer coisa… Você pode mudar uma fala em um filme e pensar, ‘Oh, meu Deus, sou obviamente um gênio’… Mas não sei se seria capaz [de escrever ou dirigir]. Fora da atuação sou uma pessoa fenomenalmente sem habilidades, inútil.”

Primeiro, porém, Lawrence deve voltar para a arena de Jogos Vorazes. Na noite em que falamos ao telefone, ela está  fazendo as malas para sua viagem a Atlanta para gravar os dois últimos filmes ao mesmo tempo (na verdade, ela está assistindo episódios de Dexter quando deveria estar fazendo as malas). A filmagem de 150 dias tomará boa parte de 9 meses dela ano que vem, mas Lawrence está indo para Atlanta várias semanas antes. Porque ela é  impaciente.

“Tirei um mês de férias e agora estou muito pronta para voltar a trabalhar,” ela diz. “Eu na verdade realmente me preocupei no início desses filmes que ficaria muito entediada por interpretar a mesma pessoa por tanto tempo. Mas ainda adoro interpretar Katniss e estou realmente ansiosa para ser ela novamente. Honestamente, não há parte disso que me entedie…” Ela pausa por um segundo, e aí acrescenta, fingindo estar furiosa, “Na verdade, isso é mentira. Estou muito entediada com a trança dela. Vivo perguntando, ‘Não posso usar meu cabelo diferente uma vez só?’ Mas eles vivem dizendo não.”

Mesmo quando você é atriz nova mais poderosa de Hollywood, não dá pra ser sempre do seu jeito.


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