Pleasantville – A Vida em Preto e Branco

Dois fatores em especial me despertaram a atenção para a adaptação cinematográfica de Jogos Vorazes: a presença de Jennifer Lawrence – atriz que chamou muito a minha atenção em todos os filmes que participou – e o fato de Gary Ross ser o diretor.

Gary Ross não é exatamente o diretor mais conhecido de Hollywood, nem tem a filmografia mais extensa e aclamada do mundo, mas é um sujeito extremamente respeitado por todos que conhecem o seu trabalho e alguém que admiro demais.

Ele é o responsável pelo meu filme favorito e por uma visão de mundo extremamente peculiar. Por isso, se me permitem, dedicarei este post para falar um pouco sobre Ross e Pleasantville, filme que chegou no Brasil com o nome de A Vida em Preto-e-Branco.

Pleasantville foi lançado em 1998 e ainda hoje é pouquíssimo conhecido, mesmo trazendo nomes como Tobey Maguire e Reese Witherspoon no elenco. Talvez seja resultado do seu caráter mais poético, que vai contra o cinema pipoca de Hollywood. Ainda assim, o filme recebeu três indicações ao Oscar: Direção de Arte, Figurino e Canção Original.

De qualquer forma, a história é a seguinte: David (Tobey Maguire) é um adolescente da década de 1990 apaixonado por um programa dos anos 1950 chamado… Pleasantville. Sua obsessão é tanta que ele sabe de cor todos os episódios e cada acontecimento da história. Certo dia, a TV resolve fazer uma maratona desse programa, prometendo premiar o fã mais fiel, e David se empolga, acreditando que essa talvez seja a sua grande chance. Só que ele possui uma irmã, Jennifer (Reese Witherspoon), que é a clássica patricinha fútil norte-americana, que quer assistir à MTV justamente no mesmo horário da maratona. Os dois começam a brigar e acabam quebrando o controle remoto da televisão. Nada para se preocupar, pois justamente naquele momento surge um misteriosos técnico que lhes dá um controle novo e vai embora. Assim que os irmãos apertam um botão, são transportados para dentro da televisão, indo parar na pacata cidade de Pleasantville. David e Jennifer se tornam dois dos personagens do programa de televisão e, assim, ficam condicionados à história que o jovem já está tão habituado. Só que aos poucos eles começam a alterar os rumos da história e a transformar as pessoas da cidade, e o grande trunfo do filme está justamente aí.

Como um clássico programa norte-americano de 1950, Pleasantville  é todo em preto-e-branco, e isso não muda quando os irmãos entram no programa. Aliás, é esse fato que dá forma ao filme, uma vez que conforme os irmãos começam a influenciar as ações e a personalidade dos habitantes da cidade, estes começam a ganhar cor.

   

Assim, o grande destaque do filme é o equilíbrio entre o preto-e-branco e o colorido, que produz cenas lindíssimas e questionamentos profundos e muitíssimo bem empregados. Gary Ross é um roteirista de humor extremamente afiado, com pequenas tiradas e um equilíbrio entre a ingenuidade e o sarcasmo que encantam. Ele consegue mostrar as peculiaridades da sociedade de classe média da época ao mesmo tempo em que critica as bases da sociedade norte-americana contemporânea.

Ross faz severas críticas à questão racial dos Estados Unidos utilizando uma analogia fantástica: a sociedade em preto-e-branco e a colorida. A libertação sexual é outro tema muito presente no filme, assim como a auto-afirmação.

Cultivando o humor quase infantil já visto em Quero Ser Grande e analogias a contos como o Conto da Caverna e 1984, e referências até a Fahrenheit 451, Pleasantville possui grandes semelhanças temáticas com Jogos Vorazes e é uma belíssima introdução ao diretor que dará vida a Panem nos cinemas.

Está dada a dica!


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Comentários

5 respostas para “Pleasantville – A Vida em Preto e Branco”

  1. Avatar de Cris
    Cris

    Confesso que nunca tinha, nem sequer, ouvido falar nesse filme, mas o que realmente importa é que fiquei bastante interessada em assistí-lo agora, principalmente sabendo que teve o mesmo diretor de “Jogos Vorazes”.
    Já entrou para minha lista e ultrapassou todos os que estavam nela!

  2. Avatar de Mariana
    Mariana

    É um filme pouquíssimo conhecido MESMO, o que é uma pena, porque é realmente genial. Não digo que é meu filme favorito só porque esse é um fã-site de Jogos Vorazes e o dito cujo é dirigido pelo Gary Ross, muito pelo contrário. É como eu disse ali em cima, o que mais me empolgada para Jogos Vorazes é justamente o fato de ser adaptado pelo diretor/roteirista do meu filme favorito.

    É um filme leve de se ver, diálogos simples e a fotografia é de tirar o fôlego. Tem umas coisas engraçadas na parte de direção, como a atuação do elenco de Pleasantville. Sabe, aquelas entonações toscas dos programas mais antigos, de ator meia boca? lol Todo mundo em Pleasantville é meio assim, até que a influência dos irmãos vai mudando um pouquinho tudo isso.

    Tem uma cena em particular (que até coloquei em destaque, com a Joan Allen colorida e o Tobey Maguire em preto-e-branco de costas), que é absolutamente poética. Quando assistir, você vai ver, mas adianto que envolve maquiagem cinza =D

    Veja mesmo o filme, Cris! Eu realmente recomendo, estou esperando meu blu-ray dele chegar, até. Depois venha aqui e diga se gostou!

  3. Avatar de Cotrim
    Cotrim

    Galera, mudando um pouco de assunto, só pra avisar que o site Terra está realizando uma enquete com o tema “os melhores fãs do mundo” e os Tributos estão em uma posição não muito agradável (posição 93 da última vez que eu vi), seria interessante se o site divulgasse pra que todos possam votar e a posição subir no Ranking…
    Pode votar de 10 em 10 minutos!
    Aqui o link da votação: http://listas.terra.com.br/musica/18557-os-melhores-fs-do-mundo-the-best-fans-of-the-world

    PS: Mandei isso por comentário pois não sabia outra maneira de me comunicar com o pessoal do site, já que sou visitante recente!

  4. Avatar de Andressa
    Andressa

    Parabéns à Mariana pela bela crítica! Mostrou que entende mesmo de cinema e escreve muito bem! Indo votar nos tributos!

  5. Avatar de Allan Euzébio
    Allan Euzébio

    “Pouquíssimo conhecido”…? Eu vejo esse filme pelo menos uma vez por ano desde que eu era criança hehehe, clássico da sessão da tarde. *-*
    Eu amava o fim quando tudo começava a se colorir hahaha

    Ótima resenha, Mari!