Resenha mensal: 1984, de George Orwell

Chegou a hora de falar de… 1984. Naquele ano, eu ainda era uma menininha e… Mentira, eu nem era nascida e o 1984 que você vai conhecer hoje não é bem um ano do calendário. Esse é um livro do George Orwell, que é um dos pais (se não O pai) da literatura distópica. E com certeza você pode incluir Jogos Vorazes nessa lista de filhos (um filho meio rebelde, cá entre nós).

O livro se passa em um futuro distópico onde o mundo é dividido entre três grandes potências: Oceania, Eurásia e Lestásia. Ninguém sabe dizer direito o que aconteceu, só sabem que é assim. O protagonista é Winston: um trabalhador do Ministério da Verdade da Oceania que começa a ficar perturbado com a sociedade onde vive e se arrisca para encontrar uma alternativa.

O grande diferencial de 1984 é como o autor constrói essa sociedade e a comparação dela com o nosso mundo. A Oceania é controlada pelo Grande Irmão (Big Brother), mas que ninguém sabe exatamente quem é, só que “ele” vigia todo mundo 24 horas por dia. Em cada casa há a teletela, que é como uma televisão que também te observa e está te monitorando. Pode ser que não tenha ninguém te observando naquele momento, mas é melhor prevenir. É um lugar onde não existe lei, você pode fazer o que quiser, mas existe um consenso geral de comportamento que é melhor obedecer.

O lugar onde o Winston trabalha, o Ministério da Verdade, é responsável por criar mentiras. Isso mesmo. Não existe documento fixo, eles estão sempre alterando tudo. Por exemplo, em um dia eles dizem que o preço do chocolate reduziu enquanto na verdade ele aumentou, então o Ministério da Verdade pega todas as cópias antigas de jornal e troca o último dado sobre o chocolate para um número maior. Ninguém vai poder provar que o preço subiu e com o tempo vão achar que se confundiram.

Isso é só uma ponta de tudo o que o George Orwell está dizendo, ele cria até a Novafala que abre uma discussão enorme sobre a língua e como ela influencia o pensamento.

É especialmente complicado falar desse livro porque é um livro que tem história e status, sem falar que foi lançado em 1949 – um mundo bem diferente do que vemos agora. Só para situar, era o início da Guerra Fria. O autor estava contaminado com a descrença pós-guerra, principalmente com os caminhos do “socialismo” de Stalin.  As tecnologias novas (tipo televisão, que nem com cor era nessa época) também assustavam e surgiam as discussões sobre cultura de massa/alienação.

O que importa é que o George Orwell olhou para o futuro e o que ele viu não foi algo nada bom. E ele escreveu isso de modo que serve até como um alerta geral e para gente repensar o nosso mundo.

1984 X Jogos Vorazes

Um outro lado da história dele, que tropeça e se enrola bastante com Jogos Vorazes, é a questão da “desumanização” do personagem. Jogos Vorazes mostra a desconstrução dos personagens (todos eles), tanto que é comum dizerem que a Katniss em A Esperança nem parece a mesma. E nem o Peeta, nem o Gale e muito menos a Prim. 1984 questiona se podemos ser destruídos de maneira tão profunda a ponto de perdermos toda a nossa humanidade.

Só por curiosidade: e ambos os livros são reflexos do pós-guerra, né? Para quem não sabe, o pai da Suzanne Collins lutou no Vietnã e o objetivo maior dela com Jogos Vorazes é tratar as consequências da guerra. Reality show, guerra… “vamos observar a violência”.

Você deve ter percebido que 1984 é mais para o lado sério da coisa. Ele até tem um romance, porque parece que o “””fogo da paixão””” é o que faz as pessoas lutarem, existe o suspense de “será que Winston será pego por estar fazendo algo errado?” e, junto com o personagem, você vira as páginas esperando soluções e respostas. Não indico para leitores iniciantes ou quem busca entretenimento, mas é obrigatório para fãs de distopia e gente que gosta de pensar – além de ser indispensável para um bom leitor (é um clássico, né?!).

Uma dica é começar por livros como Fahrenheit 451 e Laranja Mecânica (livro, faz favor). A outra é pegar a edição recente da Companhia das Letras que ainda vem uns textos falando sobre o livro.

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ConversaCult é um blog sobre cultura de entretenimento jovem, focado em livros, filmes, séries, música e videogame. Para os fãs de Jogos Vorazes, nós temos o Centro de Treinamento, onde nós trazemos análises e outras informações para os fãs como nós.


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