[Reportagem] Como as mulheres podem salvar o mundo contando histórias épicas nos filmes

A reportagem mensal de novembro do D13 traz um texto publicado em um dos blogs do site do The Huffington Post em março de 2013. Embora ele não aborde diretamente o assunto de Jogos Vorazes, ele traz uma discussão interessante sobre os papéis das mulheres no cinema.

A autora discorre sobre como mudar o mundo do entretenimento de hoje, dando mais importância a elas, apresentando-as, por exemplo, como protagonistas fortes, inteligentes e com vontade de mudar o mundo, próximo de como vemos os super-heróis. Além disso, ela acrescenta como seria interessante e importante se mais diretoras e roteiristas estivessem por trás de filmes grandiosos de Hollywood. O importante é que as representantes do sexo feminino se tornem mais ativas, inovadoras, além de fazer um trabalho com excelência.

Para ilustrar exemplos de sucessos de bilheteria encabeçados por mulheres, na direção ou como protagonista, a autora utiliza exemplos conhecidos do grande público, como é o caso de Jogos Vorazes, cuja protagonista é Katniss Everdeen. Outro filme citado é o primeiro da saga Crepúsculo, dirigido por Catherine Hardwicke.

O texto original você confere aqui. A tradução pode ser lida abaixo.

Como as mulheres podem salvar o mundo contando histórias épicas nos filmes

Por Govindini Murty | Postado em 10/03/2013 2:40 p.m.

Um filme feito por fãs da Mulher Maravilha que inflamou a Internet essa semana fez mulheres de todas as partes comemorarem a possibilidade de um filme de uma superheroína. Ele também levantou a intrigante questão: Como seria a nossa cultura se tivéssemos mais filmes grandiosos e épicos sobre as vidas de mulheres? E se mulheres os escrevessem e dirigissem?

Com mulheres no cinema, nos disseram para aceitar histórias pequenas, orçamentos baixos e expectativas modestas. Mas e se tivermos visões bem maiores? E se quisermos fazer filmes de sucesso com heroínas cheias de valor, inteligência aguçada, e um desejo de mudar o mundo?

E se os filmes épicos de mulheres pudessem mudar o mundo – provendo narrativas de união que podem superar a divisão e fragmentação da nossa civilização atual? Na semana passada eu tive o prazer de falar sobre esse assunto no painel “Mulheres Poderosas no Entretenimento” na Semana de Mídias Sociais de Los Angeles. Tivemos um público esperto e entusiasmado, e como frequentemente ocorre em eventos assim, surgiu a recorrente pergunta: como corrigimos o constante desequilíbrio na representação feminina na mídia e no entretenimento?

Todos nós conhecemos os espantosos números: Apenas 5% dos 100 maiores filmes de estúdios são dirigidos por mulheres, 4,2% das companhias na Fortune 500 são comandadas por mulheres, 3% de todas as companhias tecnológicas são criadas por mulheres (e ainda assim são 35% mais rentáveis que as iniciadas por homens), 27% dos maiores empregos de gerência na mídia são de mulheres, e apenas 27% dos papeis em filmes são interpretados por mulheres (um número que não mudou substancialmente desde os anos 20!).

Eu sugeri ao público que a melhor maneira que nós como mulheres poderíamos superar essas injustiças era focando na excelência de nosso trabalho – e pegando grandes histórias e usando tecnologias digitais para entregar grandes resultados.

Minhas colegas de painel Rachael McLean da JuntoBox Films (uma companhia de filmes inovadora co-fundada por Forest Whitaker), Sarah Penna da Big Frame, e Jesse Draper da Valley Girl resumiram como estão trabalhando em busca desses objetivos. Concordamos que precisávamos de mais empreendedoras e criadoras de entretenimento para fazer com que esses esforços se firmem.

No mundo dos filmes, isso significa insistir que mulheres tenham a oportunidade de escrever, dirigir, e atuar em grandes propriedades de filmes que tenham o potencial de atingir o maior sucesso de bilheteria.

A desculpa que os executivos de Hollywood dão para os filmes liderados por mulheres não darem dinheiro é completamente ilógica. Pesquisas mostram que o determinante principal no sucesso de bilheteria de um filme não é o gênero do diretor ou do ator principal – mas o tamanho do orçamento e a extensão do lançamento do filme.

Portanto, quando uma mulher recebe um orçamento significante e uma grande propriedade para dirigir, ela tem tanta chance de sucesso quanto um homem em um projeto de nível semelhante. Exemplos de filmes grandes tão rentáveis dirigidos por mulheres incluem Crepúsculo de Catherine Hardwicke (392 milhões de dólares na bilheteria mundial, dando início a uma franquia de 3,34 bilhões de dólares); Kung Fu Panda 2 de Jennifer Yuh Nelson (665 milhões de dólares em todo o mundo); e Mamma Mia! de Phyllida Lloyd (609 milhões de dólares mundialmente com um orçamento de 52 milhões).

Sucessos recentes estrelados por mulheres incluem Alice no País das Maravilhas (1,02 bilhões de dólares mundialmente) e Jogos Vorazes (691 milhões de dólares em todo o mundo com um orçamento de 78 milhões). Mulheres também lideram cinco dos 10 filmes de maior arrecadação doméstica de todos os tempos, ajustados com a inflação: E O Vento Levou (a maior bilheteria de todos os tempos, com 1,64 bilhões nos Estados Unidos), A Noviça Rebelde (1,16 bilhões domésticos), Titanic (1,1 bilhões domésticos), Branca de Neve e os Sete Anões (889 milhões domésticos) e O Exorcista (902 milhões domésticos). Poderia também ser discutido que mulheres tem um grande papel no sucesso dos outros filmes dos 10 de maiores bilheterias como Doutor Jivago e Os Dez Mandamentos, com seus papeis significativos e fortes. Mas como damos poder para mais mulheres dirigirem, escreverem ou estrelarem em filmes de tanto sucesso? E mais, como permitimos que mais mulheres fundem a próxima grande companhia de mídia, ou que criem a próxima grande inovação tecnológica?

Minha crença é que as mulheres podem se ajudar a atingir esses objetivos adotando visões amplas e ambiciosas. Mais do que isso, essas visões devem ser fundadas em uma base firme de conhecimento profundo e humanístico, um desejo de sair do bando e liderar, e criatividade em desenvolver narrativas épicas e inspiradoras.

Precisamos nos tornar mulheres renascentistas que tem um conhecimento profundo em múltiplas áreas, que podem prover visões e liderança em uma vasta gama de campos.

Precisamos de mais mulheres polímatas que saibam muito sobre muitas coisas, emulando polímatas do passado como Aristóteles, Hipátia, Da Vinci, Hildegarda de Bingen, Ben Franklin, Marie Curie, Orson Welles, Simone de Beauvoir, ou Steve Jobs. Esses indivíduos encontraram coisas em comum entre extensas áreas – ciência, arte, filosofia, música, religião, medicina, diplomacia, filmes, feminismo, tecnologia – e no processo criaram novos trabalhos empolgantes que ajudaram a impulsionar a civilização para a frente.

Ser polímata também significa ser cosmopolita. O termo “cosmopolita” surgiu inicialmente no Período Helenístico no quarto século a.C. Foi no início das conquistas de Alexandre o Grande que os diversos povos do Mediterrâneo e do Oriente Médio começaram a aplicar ideais atenienses de lógica e indagações filosóficas às suas próprias vidas. Como resultado, eles começaram a pensar em si mesmo não apenas como cidadãos de uma cidade-estado individual (ou polis), mas como cidadãos do cosmos 0 – literalmente cosmopolitas. Ser um cosmopolita hoje significa que alguém tem um prazer humanístico nas várias culturas e formas de conhecimento ao redor do mundo. Não significa que a pessoa não tenha um senso de lealdade a seu país – apenas que ela tem um forte interesse no resto do mundo e no bem comum da humanidade.

Nações e povos florescem quando adotam ideais cosmopolitas. Pensa-se na Inglaterra Elizabetana, na Índia de Gupta, na Florença renascentista, e na Dinastia Tang chinesa no auge da Rota da Seda. Essas foram eras em que viagens e comércio interligavam várias culturas e povos, e o resultado foi grande arte e inovação.

Para as mulheres de hoje, ser cosmopolita significa ser aberta ao mundo, à inovação, às novas possibilidades. Significa não se deixar conter por ideias ultrapassadas de qual deveria ser o lugar de uma mulher, ou que tipos de histórias uma mulher deveria contar nas telonas.

Mantendo esse espírito, o público da Semana de Mídias Sociais de LA concordou fortemente quando eu sugeri que produtoras e diretoras não deveriam ser confinadas apenas a comédias românticas e teatro de câmara. Deveríamos ter a oportunidade de escrever e dirigir grandes épicos históricos, ambiciosos filmes de ficção científica, aventuras fantásticas imaginativas, películas gigantes de quadrinhos, arrebatadoras adaptações literárias, e muito mais. É liderando tais esforços cinematográficos que as mulheres podem fazer sua maior marca na remodelagem da cultura.

E essa remodelagem da cultura é muito necessária hoje. Em níveis técnicos estamos mais cosmopolitas do que nunca, com nossa grande conectividade com todas as outras pessoas do planeta (e até mesmo da galáxia, com a Voyager 1 saindo do sistema solar agora) – mas nosso pensamento não é igualmente mente aberta e cosmopolita.

Apesar de todos os nossos avanços na comunicação digital, os povos do mundo estão tão divididos como nunca por raças, gêneros, religiões, e culturas. Fiquei tremendamente orgulhosa algumas semanas atrás que os Estados Unidos, uma nação que eu amo por seus ideais revolucionários de liberdade e democracia, receberia a primeira Miss EUA de descendência indiana, Nina Davuluri. Mas aí veio uma onda arrasadora de racismo e intolerância contra ela. Foi arrasador pelo tanto que isso é danoso para as mais de 1,27 bilhões de pessoas de descendência indiana em todo o mundo – mas também danoso para os muitos imigrantes de todas as origens que construíram os Estados Unidos. Se isso pode acontecer aqui, na nação mais conectada em mídias sociais e mais avançada tecnologicamente da Terra, então isso mostra que apenas a tecnologia não é uma cura para o preconceito humano.

Em outras palavras, a tecnologia pode resolver muitos problemas físicos – mas tem dificuldade em resolver problemas culturais ou morais. A tecnologia por si só é apenas uma ferramenta, um recipiente – ou, em termos cartesianos, é tudo extensão, não alma.

E então o que mais encherá esse recipiente que não novas histórias?

É aí que as mulheres tem a oportunidade de preencher o vazio no mundo moderno contando grandes narrativas por meio de ferramentas poderosas da mídia digital. E tais histórias podem não apenas ser contadas por filmes, mas também trazidas ao público por meio de programas de TV, séries na Internet, vídeo-games – e muitas outras formas de contar histórias que ainda serão inventadas.

Não posso evitar de sentir que assim como o imenso aumento da produtividade do mundo desenvolvido no século passado foi devido à entrada em larga escala das mulheres na força de trabalho, qualquer avanço em resolver problemas raciais e culturais no século 21 serão devidos às mulheres participando totalmente na cultura como artistas e contadoras de histórias.

As mulheres do público da Semana de Mídias Sociais estavam prontas para assumir esse desafio. Uma tropa dessas mulheres talentosas e profissionais veio depois falar comigo para compartilhar seu comprometimento apaixonado com contar histórias que uniriam, que teriam um impacto, que combinariam o entretenimento com grandes propósitos. Elas pensavam que isso não era possível, mas agora que tínhamos todas nos juntado e divulgado nossas visões em público, talvez agora poderíamos todas fazer isso acontecer.

Essa é a hora agora para que diretoras e produtoras usem as poderosas ferramentas da tecnologia digital para reunirem a história e as tradições discrepantes, ligarem diversos campos de esforços humanos, descobrir as semelhanças entre raças e religiões.

Com nosso desejo de conexões e significado, mulheres podem estar exclusivamente situadas na Era Digital para contar histórias épicas que podem unir a humanidade.

E vocês, também acham que as mulheres devem ter papel mais ativo nos grandes filmes de Hollywood?


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