A reportagem mensal de outubro do D13 traz um texto publicado pelo site do jornal New York Times, em maio deste ano. Além de explicar a importância do tordo para a história de Jogos Vorazes, ele aproveita o exemplo para falar sobre genética, falando sobre a criação do pássaro, assim como a questão das pessoas estarem mais próximas de conseguirem fazer suas próprias criações, no que é chamado de biologia faça-você-mesmo. É um texto interessante que apresenta o fato de muitas coisas que vemos na literatura podem estar mais próximas de existir do que se imagina.
O texto original pode ser lido aqui. A tradução você confere abaixo.
Biologia Faça-Você-Mesmo, sobre as asas do Tordo
Por James Gorman | Publicado em 10 de maio de 2012
Organismos geneticamente modificados não são muito populares hoje em dia, à exceção de um: o pássaro fictício que é o ponto central do filme e da trilogia de livros de enorme sucesso Jogos Vorazes. Este é o tordo, um cruzamento entre um rouxinol e um pássaro espião geneticamente modificado chamado de gaio tagarela.
A história de Jogos Vorazes se passa em um futuro fictício no qual adolescentes são forçados a caçar e matar uns aos outros em competições anuais feitas para o entretenimento e repressão de uma população altamente controlada. O tordo aparece primeiro como um símbolo quando Katniss Everdeen, a heroína, recebe um broche com o pássaro. O broche de tordo espalhou-se pelo mundo real, mas os pássaros permaneceram na ficção.
“Esses pássaros são engraçados e a ideia funciona como um tapa na cara da Capital”, explica Katniss no primeiro livro. Esse tapa na cara é uma novidade no grande medo de que a engenharia genética, que modifica organismos ou seus genes, possa escapar para o mundo selvagem e causar estragos. O tordo é uma consequência não intencional que resultou de uma criação fracassada do governo, o que quer dizer Katniss ao se referir à “Capital”. Mas ao contrário de ser um desastre, o pássaro é um amado lembrete dos limites de um poder totalitário.
A origem do pássaro, explica Katniss, aconteceu quando os governantes modificaram uma espécie não identificada de gaio para fazer uma nova criatura, um animal que o governo chamou de gaio-tagarela. Os gaios tagarelas deveriam funcionar como gravadores biológicos dos quais ninguém suspeitaria. Eles ouviriam conversas e então retornariam aos seus mestres para reproduzi-las.
Os gaios tagarelas, todos machos, foram abandonados para morrer quando a população percebeu o que eles estavam fazendo. Como organismos geneticamente modificados hoje em dia, não se esperava que os gaios tagarelas sobrevivessem em ambiente selvagem, mas eles se reproduziram com rouxinóis e produziram um híbrido que podia imitar sons e músicas humanas, e continuar vivendo, para irritação do governo e deleite do povo.
Deixando de lado o fato de que gaios pudessem realmente cruzar com tordos – isso é um conto, afinal de contas – a escolha das espécies parece plausível. Gaios, junto com corvos e gralhas, pertencem a um grupo altamente inteligente de pássaros chamado de corvídeos. E gaios são ladrões e espiões naturalmente, rastreando onde outros gaios mantem escondida a comida, por exemplo, para roubá-la depois. Rouxinóis, é claro, têm uma habilidade fantástica para imitar o canto de outros pássaros. Por coincidência ou não, Thomas Jefferson, um amante de pássaros e de liberdade, teve como animal de estimação um rouxinol na Casa Branca.
Perguntei a Joan Slonczewski, uma microbiologista e escritora de ficção científica do Colégio Kenyon, de Ohio, sobre o que ela pensava a respeito do tordo. Dra. Slonczewski, cujos livros recentes incluem um texto e um romance, “The Highest Frontier”, ensina em um curso chamado “Biology in Science Fiction” (Biologia na Ficção Científica). As ferramentas necessárias para modificar organismos já estão espalhadas pela indústria e além. “Agora todos podem criar um projeto,” disse ela.
Não é exagero. A biologia do tipo faça-você-mesmo está crescendo. A tecnologia para copiar partes do DNA pode ser comprada no eBay por algumas centenas de dólares, como Carl Zimmer reportou ao The New York Times em março. Até onde a biologia faça-você-mesmo pode chegar foi o ponto apresentado por Freeman Dyson, um estudioso do Instituto de Estudos Avançados, conhecido por suas ideias provocadoras, no “The New York Review of Books” em 2007. Ele imaginou as ferramentas da biotecnologia sendo acessíveis para todos, incluindo pessoas que criam animais de estimação e crianças, e caminhando em direção a uma “explosão de diversidade de novas criaturas vivas”.
Eventualmente, ele escreve, a mistura de genes feita por humanos vai iniciar um novo estágio na evolução. Pelo caminho, se ele estiver certo, o mundo pode ter mais tordos do que pode aguentar.
E vocês, achariam legal se mais criaturas como o tordo pudessem existir?
Comentários
2 respostas para “[Reportagem] Biologia Faça-Você-Mesmo, sobre as asas do Tordo”
Seria surreal demais, mas ao mesmo tempo seria divertido ver tordos por ai…
Seria incrível!!!!!!!!!!!!!!!! acho que se eu pudesse eu iria ter um pra mim…