A história de Jogos Vorazes se passa em Panem, uma nação fictícia localizada na atual América do Norte e comandada através de um regime totalitário. Mesmo que fictícia, Panem é baseada em elementos do nosso cotidiano, o que acontece em toda obra literária. Além do fato de ter seu nome baseado em uma política usada para saciar um povo insatisfeito com seus governantes, a mídia em Panem é comandada pelo governo, que acaba censurando diversos acontecimentos. E é sobre a mídia de Panem que é o tema desta análise.
Desde o começo do primeiro livro da trilogia, nós percebemos que tudo é transmitido através da televisão. Outros meios de comunicação não têm papel significativo na trama, já que possuem suas peculiaridades e não são tão facilmente controláveis quanto a TV.
Livros e revistas, por exemplo, além de proporem através da leitura a consciência, algo que definitivamente não pode acontecer em um regime totalitário, podem circular entre as pessoas através de “empréstimos”. Os livros e revistas poderiam conter anotações contra o governo, o que por si só pode ser uma ameaça a um regime instável. Algo similar aconteceu aqui no Brasil durante a ditadura militar: o dinheiro que na época circulava continha mensagens contra o governo.
O rádio é pobre perto da TV. Por apenas transmitir sons, ele não passa a sensação que a Capital deseja passar: o choque e a dor nos habitantes dos distritos enquanto vêem seus conterrâneos morrerem durante os Jogos Vorazes. Uma poderosa caixa de som não passa a mesma sensação que um grande telão.
O telefone, como dito na série, é algo exclusivo para os vencedores. É uma das “recompensas” da Capital para os vencedores dos seus Jogos, quando na verdade é apenas mais um jeito de ter sob controle o vencedor que mal tem como usar o telefone.
Com a realidade política de Panem, a internet é o que Presidente Snow chamaria de “faísca”. Ela é o mais próximo do conceito de liberdade de expressão de hoje em dia. Ela incendiaria Panem, o que faz com que nem seja citada no livro.
Por fim, sobra apenas a televisão, que é o meio de comunicação usado por toda Panem. A programação é controlada pelo governo e a TV não deixa a população se comunicar entre si. Isso basta para uma população ficar alienada sobre acontecimentos rebeldes.
Comentários
5 respostas para “A mídia em Panem”
Parabéns, Guilherme! Ótima análise e perfeita comparação com o que aconteceu no Brasil no período da ditadura militar. Parabéns mesmo, adorei o texto!
Na verdade, a ditadura militar aqui no Brasil foi um regime autoritário. Há uma diferença quanto ao uso propaganda: no totalitarismo, o Estado controla toda a população, até sua vida privada, fazendo com que esta se volte para o Estado; no autoritarismo, que tivemos no Brasil, o Estado controla a vida pública, deixando os civis com sua liberdade, desde que essa não vá contra o Estado e suas concepções de governo. Sem contar que a mídia no autoritarismo serve para enaltecer o Estado, já no totalitarismo a mesma serve para manter a massa sob controle do governo, ou seja, o governo se infiltra até mesmo na vida privada dos cidadãos, como se vê em Panem.
Quando eu falei “perfeita comparação com o que aconteceu no Brasil no período militar”, me referi ao trecho da matéria que fala sobre a circulação do dinheiro com mensagens contra o governo escritas nas cédulas.
Sao essas analizes que fazem as historias dos 3 livros se tornarem mais interessantes e atraentes. Elas tornam a historia, como um todo, mais real aos nossos olhos. Ja que, muitas vezes nao conseguimos enxerga-las ao lermos os livros.
Parabens!! 🙂
O interessante é que num mundo futurístico como Panem é descrita, a Internet simplesmente não é citada, e provavelmente não deve existir, ao menos para a população, por motivos óbvios. Isso mostra como a Collins pensou e analisou tudo antes de passar Panem para as páginas de um livro. De fato, Snow jamais teria tanto poder se a internet ainda existe.